Wednesday, November 04, 2009

Estiagem

Tudo estava assim
Meio que abafado
Mas logo depois
Os pingos a terra se apresentaram

E inundaram aquela cidade
Que já não tinha pra onde sua água escoar

Mas, mesmo assim, insistia em chegar sorrateiro
Em golpes rasteiros
Na companhia dos ventos
Com velocidade descompassada e instável

E assim, depois de dias, continuava
O tempo fechado
O céu aparentemente azulado
E os resquícios ali, arrastados

Levados pela enxurrada
Incontida e ininterrupta
Que sem ao menos esperar
Transbordava e, sem notar, levava tudo

Inclusive o cabelo da mocinha que atravessava a rua
E o abrigo dos carentes como eu

De repente, noite fez-se dia
A temperatura já era tardia
E o que era uma tarde vazia
Transformava buracos e poças em sorrisos

Deixando apenas pegadas
Inerentes, inocentes
Uma areia molhada
Com rastros que aos poucos não se reconhecem e desaparecem

2 comments:

Anonymous said...

Versos molhados
metáfora
tua poesia
correntezas

Eu a acompanhar-te
amor

Anonymous said...

te acompanho para que sempre me reconheças.